Festa do Divino 2010 traz esplendor dos ritos portugueses e eleva espírito solidário

Trino* agrega comunidade no trabalho para realizar este festejo popular. Quatro mil Bodos são oferecidos

O contato com a estética através das artes e com o bem despertou os cambuquirenses a participar da Festa do Divino Espírito Santo 2010, realizada no dia 18 de julho, em Minas Gerais.

Inspirada no ritual da Festa de Tomar, em Portugal, este ano a STOP à Destruição do Mundo e o Grande Hotel Trilogia (GHT), os organizadores do evento, promoveram a sexta edição desta solenidade popular com maior riqueza nos adereços e decoração, em um conjunto de diferentes cores, resultado em boa parte do trabalho da comunidade local. A integração dos que ajudaram a organizá-la junto com os visitantes e cambuquirenses, mostrou como é possível vivenciar o sentido da festa: celebrar o futuro com paz, liberdade, estética, trabalho, igualdade, consciência e espírito em Deus.

Procissão do Divino

Os moradores tomaram conta das ruas e seguiram a procissão em cortejos, iniciada no GHT, admirando o Esplendor do Espírito Santo conduzir até a Igreja São Sebastião, os Cortejos de Anjos Azuis, formado por alunos dos cursos de balé e de piano do Crescer com Arte; de Príncipes e Princesas encenando o reinado do rei Dom Dinis e da rainha Isabel de Aragão, em desfile real; de Tabuleiros, carregados por festeiros portugueses; dos Cavaleiros Templários em Cavalhada, representando a união entre judeus, cristãos e os mouros nesta nova fase de espiritualidade; do Grupo Folclórico de Dança Portuguesa Pedro Homem de Mello, de São Paulo, que fez shows durante as festividades representando os portugueses, e das Charretes conduzidas por populares.

Algumas mães dos anjos no Cortejo estavam emocionadas vendo tanta beleza. Maria das Graças dos Santos, 43, doméstica, mãe de Ludmilla, 11 anos disse empolgada, “esta festa é linda! É a primeira vez que vejo isso. Antes estava tudo parado, o hotel isolado. A cidade mudou muito com o Trilogia, referindo ao GHT, que trouxe movimento na cidade, que estava muito apagada”. Maria da Graça disse ainda que “No Trilogia tem atividade para as crianças e movimento para a gente. A Ludmilla faz balé. Esta gostando e eu também”.

Outra mãe orgulhosa, Marcelina Caetano, 23, que trabalha na roça de café, mãe de Jade, 8 anos, sorridente opinou, “estou achando tudo muito bonito. Nunca vi igual! É a primeira vez que tem isso aqui. E minha filha está na procissão, vestida de anjo”. Marcelina falou que Jade ensaiou com os outros anjos no Trilogia. A menina faz aula de balé pelo Crescer com Arte. “Ela está gostando tanto da dança e da professora de balé!. Acordou hoje perguntando se tinha aula. Melhorou tudo para nós”.

Na igreja: celebração e depoimentos de fé e esperança no bem

A missa foi celebrada pelo padre da Igreja de São Sebastião, Alexandre Costa Solaira, e a homília proferida pelo padre Célio Lopes dos Santos, missionário redentorista de São João da Boa Vista e Aparecida do Norte, São Paulo, visitando Cambuquira especialmente para esta festividade.

Em sua homília, padre Célio exaltou a ação do Espírito Santo e de como as pessoas que aceitarem esse contato com Ele, estarão igualmente unidos em Cristo, lembrando a descida do Espírito Santo sobre os discípulos de Jesus no dia de Pentecostes, que acontece cinquenta dias depois da Páscoa. Aproveitou para agradecer a Trilogia dos cientistas sociais e psicanalistas, Norberto Keppe, escritor de mais de trinta livros, e de Cláudia Pacheco, que também é presidente da STOP. “Vendo o lado social do trabalho que vocês realizam, inclusive aqui em Cambuquira, rezo para que continuem pelo EspÍrito Santo a trazer o Reino Divino de Deus”, previu padre Célio.

Em seguida Cláudia Pacheco agradeceu aos padres Alexandre e Célio e a todos que colaboraram para realização de mais esta Festa do Divino. “Hoje vejo triplicar a participação desta comunidade e isso me dá muita alegria. O Espírito Santo não olha o que está no exterior, não importa os valores materiais, mas, sim, o que está no coração de cada um”.

Ela disse que o importante é se perceber, enxergar as más intenções para poder mudar e procurar ajudar os outros. Cláudia comparou: “Cada um que fez uma flor, pode ser uma flor no jardim de Deus. Este povo de Cambuquira está com fé no bem, no amor. Viemos aqui para ensinar aos que desejarem como aprender a trabalhar e criar seus próprios empregos, suas roupas e seus alimentos. Vamos chegar lá!”.

Norberto Keppe falou por último, também agradecendo o padre Alexandre, e relembrando o que disse na celebração desta festa em 2009, “nossa intenção era, desde o início, que este povo se levantasse e ficasse no bem, não só de pé!. Transmiti naquele dia três elementos através das ideias do Espírito Santo”. “Nossa missão é ensinar aos senhores como chegar pelo trabalho, a condição para que o povo tenha em primeiro lugar, pão em abundância; em segundo, um teto, que um dia todos tenham teto; e em terceiro e último, que tenham recurso financeiro suficiente”, perguntando depois ao público que lotou a igreja: vocês estão de acordo? Tendo um sonoro “Sim”, como resposta. “Começamos aqui este trabalho social que estamos realizando para depois isso seguir pelo Brasil, fazendo com que o poder ruim ceda ao poder bom”.

Em seguida, o padre Célio fez a benção dos pães, que foi distribuído para todos os presentes. A missa foi encerrada com a apresentação do Coral da STOP, conduzido pelo pianista e maestro André Torres. Na saída da igreja, os padres Alexandre e Célio, juntos com Cláudia e Keppe, concluíram a cerimônia e soltaram pombas brancas, simbolizando o Espírito Santo.

No retorno ao GHT, todos em procissão pelas ruas enfeitadas, presenciaram em frente à Prefeitura Municipal o ritual da coroação do menino Murilo que será o imperador do Divino em 2010, feita pelo prefeito Evanderson Xavier, o Kaka. A cada ano é escolhida uma criança da cidade, simbolizando o imperador do Espírito Santo no reinado de Deus na Terra.

A festa finalizou com a distribuição gratuita no GHT, de mais de quatro mil refeições para o povo carente da cidade, chamado de Bodo, como ocorre na tradição portuguesa.

“Adorei a festa. Participei da missa e da procissão. Deste Bodo nem se fala! Muito bom! Ganhei o Trino* para pegar aqui. É bom porque não preciso ir para o fogão hoje. Em casa tem seis pessoas esperando para comer isso”, explicou Marlizabeth da Silva Amaral, 56 anos, saindo da fila com dois marmitex.

Espírito de comunidade solidária & Trino*

Por três meses, além dos voluntários e parceiros de São Paulo, amigos da STOP, muitos cambuquirenses ajudaram a fazer a decoração, – flores, pombas, cartazes, adereços – e a ornamentar ruas da cidade, casas, estabelecimentos comerciais, motivados pela ação social do Projeto Crescer com Arte da STOP em Cambuquira, que envolveu nesses trabalhos seus alunos dos cursos de piano, balé, artesanato, costura e modelagem bem como, tantos outros moradores da cidade, desde crianças, jovens, senhoras, parceiros comerciais, mais o apoio Prefeitura Municipal. Tudo sob a coordenação de uma das lideres da STOP, a professora de costura e modelista portuguesa, Lurdes Alcaide, incansável na motivação de todos.

Esse também foi o momento quando a STOP instituiu o Trino*, papel de trabalho do trabalho voluntário, usado pela Associação para pagamento dos que colaboraram voluntariamente pela festa. O Trino* começou a ser aceito nas barracas da Quermesse do Divino, ocorrida no dia anterior, 17, substituindo o dinheiro, onde puderam comprar comidas e bebidas típicas, mantimentos no Mercatrino e roupas, sapatos e acessórios no Brechó do Bem, trazendo assim um complemento à economia doméstica da comunidade local.

“Agradeço a Deus por duas pessoas, ao doutor Keppe e a doutora Cláudia e também ao grupo que está sempre junto deles, pela beleza que trouxeram para dentro de Cambuquira, ajudando todos nós aqui. Tanta coisa linda que eles fazem!. A festa da Semana Santa, toda iluminada, e a do Divino então, melhorou muito a cidade, inclusive o visual que fica melhor a cada ano. Devagarzinho eles estão trazendo o bem aqui para nós”, testemunhou José Sebastião Carneiro, o José Boi Gordo, 62 anos, pedreiro e garçom.

Mais depoimentos dos moradores e visitantes na Festa do Divino 2010

Maria José dos Reis Leme, doméstica, 50 anos, mãe de Maria Carolina, 9 anos, que fez parte do Cortejo de Anjos na procissão diz, “estou adorando tudo mesmo e muita gente também. Nossa! que festa o Trilogia fez para a gente”, forma que os populares referem-se ao GHT.

“Nunca teve uma festa assim para a gente ir!”, disse Ana Cláudia Custódio, vendedora, 34, mãe de Ana Paula, 13. Ela contou que ajudou a fazer as flores que estava vendo enfeitar os adornos. “Enquanto minha filha ensaiava o balé no Trilogia, as amigas reuniam, faziam flores e conversavam”.

“Nunca teve uma festa como agora! O Trilogia está de parabéns! É o dia mais lindo para mim. Deus vai ajudar vocês. Cambuquira hoje está alegre”. Isaura Reis da Silva, 59 anos, doméstica, moradora da cidade.

“Acho muito importante a cidade estar resgatando a cultura, a religiosidade. As crianças não tinham acesso ao que está sendo oferecido pelo Projeto Crescer com Arte, como também as palestras e orientação que estão acontecendo nas escolas aos professores. Essa força maior vinda agora pela equipe do GHT, vai elevar o nome de Cambuquira de novo. O povo está aceitando bem esse trabalho”. Valéria de Fátima Silva Fonseca, professora das duas escolas estaduais da cidade, 36 anos, 19 como moradora.

“Minha visão de tudo isso é nota cem! As obras do Keppe são maravilhosas. Se não fosse vocês, a cidade estaria parada este mês. A cidade está bem invertida. Cambuquira precisa de voces. Há necessidade de mais cultura e educação para o povo e vocês estão fazendo esse trabalho, como os do Gilbert que são ótimos (Gilbert Gambucci, professor de piano de 40 crianças pelo Crescer com Arte). Ele está ajudando muito as crianças. Como todos os eventos do GHT, e esta bonita Festa do Divino. No que precisarem de apoio e incentivo, eu me coloco à disposição para o que for preciso. Todo ato bom na nossa vida ajuda o universo”. Laércio Manes, 47 anos, comerciante e locador de imóveis em Cambuquira.

“Esta festa é muito linda. Chic! Cidade toda enfeitada. Na minha cidade não tem nada assim. A gente precisa disso lá para levantar a cidade. O bom é que esta festa aqui não está misturando religião com bebida. Em outros lugares é uma avacalhação. Fazia tempo que não vinha aqui e vejo que está muito largada. Tanto prédio bonito e acabados desse jeito. A prefeitura podia ajudar a restaurar”. Afonso José do Carmo Leite, 57 anos, empresário, Itajubá – MG.

“Todo esse movimento e a Festa do Divino em Cambuquira representa a retomada do turismo local para o desenvolvimento e progresso da cidade e de sua cultura popular. Acho que a participação do prefeito, que é muito popular, ajudou a mobilizar a cidade. Esta festa ganha pontos com a Secretaria da Cultura do Estado, pois resgata a cultura dos bens materiais e imateriais, a cultura da memória de um povo”. Fernando Wilson Bustamante, jornalista, cobrindo o evento para a região, presidente da Imprensa do Sul de Minas (AIS MG), Caxambu – MG.

‘Esta festa é um movimento cultural importante para a cidade. Cambuquira foi muito importante antes e esta festa começa a resgatar isso, pois o desenvolvimento se faz através da cultura e da arte. Ficamos 20 anos num marasmo total!. Percebo que com a chegada do Trilogia o povo está, bem devagarzinho, aceitando esse trabalho. É um povo reservado para a novidade. Mas já aceita a escola de música, piano, o balé. A gente já vê a cidade com um novo olhar”. Magali Borges Oliveira, 60 anos, professora universitária, farmacêutica e artista plástica com obras exposta no 7º Festival de Artes da Casa Encantada, do GHT.

“Festa é ótima! O povo está mais participativo e entrosado do que na primeira. Este ano ajudei nas flores. Em 2011 quero participar mais. Noto que o movimento de turismo cresceu mais com o GHT. A gente fica feliz em saber que querem colaborar com a cidade. Mas percebo que se o GHT não estiver à frente, não acontece nada na cidade. O povo daqui é meio tímido. Acho que trazendo cultura vão participar. As palestras que o pessoal do GHT faz nas escolas são uma das coisas que gosto muito. São muito boas”. Maria Aparecida Baldim, 50 anos, supervisora escolar em Cambuquira.

“Achei a festa maravilhosa!. A comunidade participando mais. E esse esforço é mérito do pessoal do GHT, que é muito unido e comunicativo. A cidade melhorou muito com a chegada deles”. Marlene da Silva China, 53 anos, cabeleireira e vereadora.

“Pela primeira vez vejo uma festa tão bonita assim! O povo gostou da dança dos portugueses. Foram tão lindos. Eu e minhas amigas trabalhamos por três meses, fazendo flores. O Trilogia trouxe mais atividade para a cidade. Tem bem diferença aqui com a vinda do hotel”. Mara Lúcia da Silva Oliveira, 55 anos, cozinheira.

* Trino: Entenda-se por “Trino”, moeda social, usada na compra dealimentos, roupas e calçados, materiais escolares e de escritórios, serviços em geral (manicure, cabeleireiro, aulas particulares de idiomas, arte e reforço escolar), bens de uso geral (utilidades domésticas, ferramentas, eletrodomésticos), recebidos através de doações . Essa moeda social é considerada um instrumento de desenvolvimento local, destinada a beneficiar o mercado de trabalho dos grupos que participam da economia da localidade. Seu uso é restrito à comunidade, e a sua circulação beneficia a redistribuição dos recursos na esfera da própria comunidade. O aumento da quantidade desse papel corresponde ao aumento das transações realizadas pelos participantes da economia local. Sua criação se inspira nos conceitos da economia solidária de articulação e trocas da economia, na produção e comercialização de produtos que vão além da lógica capitalista, por beneficiar a comunidade local e trazer desenvolvimento.

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