Universidade Livre Keppe e Pacheco promove Curso de Pintura em Azulejos

Quem passa pela rua Nossa Senhora Aparecida, em Cambuquira, Minas Gerais, se impacta com a beleza do muro que está se transformando num mural de arte a céu aberto e ponto turístico da cidade. Em parte dos vinte metros desse muro, que fica em frente ao largo da Igreja São Sebastião, estão assentados azulejos estilo barroco, em exposição de formas e desenhos diversos, despertando admiração dos pedestres. Eles foram pintados pelos alunos cambuquirenses das aulas do Curso de Pintura em Azulejos, promovido gratuitamente pela Universidade Livre Keppe e Pacheco, através de seu Projeto Crescer com Arte, que acontece na Casa Encantada, anexo do Hotel Trilogia.

A ideia, segundo a artista plástica portuguesa e professora do curso, Gisela Alcaide, é embelezar o muro com a maior quantidade possível dos azulejos que forem sendo produzidos pelos alunos até o final do curso. “Será um registro para eles mesmos não se esquecerem do potencial artístico de cada um e para os que quiserem admirar essa arte produzida pelos filhos da terra, além de enfeitar a cidade e oferecer capacitação profissional para eles”.

Curso de Azulejos: Método Trilógico aliado a técnica e história da arte

O Curso de Pintura em Azulejos, iniciado em agosto de 2010, tem programa de quarenta horas distribuídas em vinte aulas de duas horas cada, por um período de um ano, terminando em julho de 2011. Está com dezoito alunos com frequência assídua. Já pintaram mais de duzentos azulejos e grande parte fica agora em exposição permanente no muro-mural. São pinturas onde predominam o azul do período Barroco, século XVIII, época em que o azul e branco foram copiados das porcelanas vindas da China, e passaram a ser considerados chiques e de bom gosto. Esse estilo foi adotado especialmente pelos artistas holandeses e portugueses, que tanto influenciaram o Brasil.

Os alunos já fizeram painéis policromados de quatro azulejos, que são formados por figuras avulsas e individuais que se complementam quando colocadas em conjunto, por serem da mesma cor, em azul, e terem elementos decorativos iguais nos quatro cantos. Nas últimas aulas produziram painéis de estilo Barroco, as Albarradas, com doze azulejos cada, que foram pintados em duplas. “Costumo dedicar os primeiros vinte minutos da aula à histórica da pintura em azulejos, enfocando o aspecto filosófico de forma simplificada quando os alunos fazem comentários sobre o entendimento deles; e depois passamos à prática, pintando individualmente ou em duplas”, explica a artista plástica, Gisela.

“O que eu percebi ao longo desses nove meses de aulas é a integração entre os alunos, a colaboração deles nos trabalhos. É notório o desenvolvimento humano entre eles. Vejo a preocupação do grupo se alguém falta. Quando isso acontece, eles vão atrás para que esses colegas não deixem de ir às aulas”.

A professora observa que além de muita aplicação prática, a parte teórica da sua aula é trilógica, baseada nos conceitos da Trilogia Analítica e obras dos cientistas sociais, escritores e psicanalistas Norberto Keppe e Cláudia Pacheco, bem como os fundamentos metafísicos inerentes à atividade artística e à estética.

Segundo ela, o método desperta por si mesmo muita consciência aos alunos, tanto na percepção das limitações deles, como na das capacidades e talentos de cada um. “Associado a isso, seguimos uma linha histórica da pintura em azulejos, onde conhecemos a base cultural desta arte.

A aplicação do método trilógico já tem resultados práticos no treinamento. Gisela conta que teve que estimular alguns alunos a pintarem painéis em conjunto com os outros. “Eles tinham resistência e preferiam pintar sozinhos, mas quando começavam a trabalhar em grupo, sentiram bem-estar e todo o ambiente da aula se tornava mais afetivo, de maior colaboração e descontração” Ela percebeu que, ao trabalharem juntos eles não ficam tão tensos, já que a tensão é causada por uma cobrança pessoal. “Aparecia o bom humor na conversas entre eles e a tentativa de ajudar o colega a descontrair em relação ao medo de errar. Ou seja, em grupo dão mais consciência uns para os outros tanto das próprias dificuldades como da capacidade de superá-las”.

Com a evolução das aulas e aprendizado de novas técnicas de pinturas e estilos, que variam conforme o período histórico que Gisela vai ensinando, levam os estudantes a enfrentarem novos desafios, se entusiasmando com o fator novidade. “Com isso são motivados a lidar continuamente com as próprias barreiras ao invés de desistirem perante as mesmas”.

Exposições: gera vendas X meio de renda 

Além da exposição permanente que pode ser apreciada no muro da cidade, os alunos já realizaram a Primeira Exposição de Azulejos na Galeria de Arte da Casa Encantada, na semana do Natal 2010. Gisela conta ter sido um momento surpreendente para todos, pois foi a primeira vez que puderam mostrar seus trabalhos artísticos para o publico, tanto para os da cidade como os turistas.

Foram vendidas algumas peças expostas e encomendadas outras, como as xícaras com os motivos dos azulejos. Pelas vendas, os alunos sentiram o carinho de quem apreciou a beleza do que fizeram e pegaram mais confiança nas suas capacidades. Quando eles vendem alguma peça, azulejos, eles recebem em Trinos, em substituição ao dinheiro, e, com o Trino compram mantimentos, produtos de higiene e limpeza no Mercatrino, mercado social dos Projetos Cambuquira e Crescer com Arte, e roupas no Brechó do Bem, que também ficam na Casa Encantada.

Gisela sente a satisfação de seu trabalho ao ouvir que algumas crianças manifestam o desejo de tornarem-se artistas desta arte quando crescerem. E disse, “uma aluna já está pintando pratos para vender para os turistas como lembrança da cidade”.

Um visitante da exposição, William Gorgulho, deixou suas impressões: “todos vocês, com seu trabalho, com seu empenho, enriquecem nossa cidade. Seja materialmente, e também, culturalmente, o que considero mais importante”.

O aluno Cícero Prado, funcionário público, formado em Letras, diz que “ter ingressado nestas aulas foram sem sombras de dúvidas, uma certeza e realização do meu psíquico. Para nós é uma glorificação ver e ter nossas míseras e iniciantes pinturas sendo compradas por pessoas de outros países”.

Outra aluna, Magali Borges de Oliveira, professora universitária farmacêutica, fala ser gratificante participar do curso porque “gosto muito de artes e sempre desejei conhecer o trabalho em azulejos. É um trabalho difícil, mas engrandece a alma e nos dá conhecimento sobre um apêndice da história da arte, pois não pintamos azulejo de maneira mecânica, e, sim, com o conhecimento transmitido a nós em aulas teóricas. É um processo lindíssimo de conhecimento e crescimento humano, integração social e elevação espiritual pois demanda concentração, silêncio e muito amor”.

Já o estudante Rafael Ramos Lemes, opina que “este curso oferecido aos moradores da cidade vem trazendo grandes benefícios para nós, pois, requer uma atenção e dedicação especial, nos fortalecendo intectualmente e dando mais fixação nas tarefas. Além de remunerações aos mais necessitados. Agradecemos a colaboração e paciência dos professores”.

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